Tenho tanta coisa para dizer, no
entanto as palavras não querem sair. Não sei por onde começar, qual o primeiro
passo a dar e que caminho seguir a partir daí.
Os dias misturam-se com as semanas
e os meses. O tempo passa rápido demais, ou muito devagar. Hoje estou perdida,
sombria, cinzenta como os dias de chuva que marcam este mês de agosto. Outros
dias estou inteira, flutuante.
Onde está a linha que separa estas
duas pessoas? Onde está o interruptor que liga e desliga a melhor (ou pior)
versão de mim?
Quando somos novos, achamos que
quanto mais velhos formos mais vamos saber sobre a vida. Acreditamos que todas
as respostas aparecem naturalmente e que as perguntas se dissipam no ar com
cada meta que atingimos. Não podíamos estar mais errados.
Tenho 25 anos e sinto que cada dia
que passa sei menos sobre quem sou. Cada dia tenho mais perguntas e menos
respostas. Cada dia me perco um bocadinho mais. E sinto que nunca me vou
encontrar. Por mais mudanças, por mais tentativas de olhar para o mundo de diferentes
perspetivas, sei dentro de mim que nunca vou deixar de ser como sou. O bom é
que já me tornei numa profissional a viver com esta personalidade.
Ninguém tem de saber que a miúda
que bebe e sai todos os dias até às tantas às vezes sai a correr das discotecas
porque tem ataques de pânico e fica horas a chorar no chão da cozinha. Ninguém
tem que saber que a rapariga que é overachiever, trabalhadora, obcecada
em evoluir na carreira, no fundo tem uma autoestima ao nível do chão e não acredita
nas suas capacidades. Ninguém tem que saber que essa rapariga só chora quando está
sozinha, porque tem que proteger pessoas que a deviam proteger a ela. Ninguém
tem que saber porque eu não quero que me olhem assim.